Thursday, December 13, 2007

O Tratado dos Ricos




"Dêem-me o poder sobre a moeda de um país e eu não quero saber quem faz as leis".


A.M. Rothschild


Depois de uma inofensiva, mas terapêutica, vaia ao nosso primeiro-ministro no Parlamento Europeu, chegou ao fim, ontem, com a assinatura do tratado dito reformador, um ciclo de eventos de invulgar mediatismo em que Sócrates tudo fez para ficar na fotografia como uma estrela de primeira grandeza. E na fotografia ficou. Mas quanto a ficar na História é outra coisa. Aproveitam-se a vaidade dos sorrisos de orelha a orelha e os sonhos da efémera glória dos últimos seis meses. Desmontada a tenda, vamos agora regressar à nossa apagada e vil tristeza. Sócrates incluído. É o triste regresso ao país real. Onde o reconhecimento do estatuto com que Sócrates sonhou está muito longe de ser uma realidade. A presidência da UE deu-lhe a visibilidade por que tanto ansiava e parece ser a maior ambição de todos os políticos. Com a colaboração do seu amigo Barroso, ajudou a que os recados que lhe foram encomendados fossem levados a bom termo. A que tudo fosse “porreiro”. É legítimo que Sócrates fique agora à espera do prémio que julga ser-lhe devido. Pelo menos não evitou os mais arriscados exercícios de contorcionismo. Foi, sem dúvida, um mandatário aplicado e zeloso. Tão zeloso que conseguiu vender o tratado como se ele não fosse um tratado constitucional. Uma constituição grosseiramente travestida. A mais estúpida das teses. E, para que ninguém tenha dúvidas sobre a sua fidelidade, até se dispõe a engolir em seco uma das suas mais emblemáticas promessas eleitorais. A de referendar o texto do Tratado. Ultrapassando com a ousadia dos corriqueiros incumpridores de promessas a linha divisória daquilo a que Adriano Moreira chamou um dia “a mentira razoável”. Infelizmente, a verdade é que Sócrates parece muito mais preocupado com o que possam pensar dele Merkel, Sarkozy, Brown e todos os pagens desta corte de interesses contraditórios que é esta Europa. Os seus favores durante seis meses não foram para nós. As suas preocupações não foram as nossas. As suas ansiedades nada tiveram a ver com as nossas desgraças. Há uma ironia amarga no facto de o Tratado ter sido assinado em Lisboa. Com pompa e circunstância. Afinal, somos um dos parceiros menores que com ele veremos amputada mais uma parcela da nossa já reduzida soberania. Com princípio da subsidiariedade ou sem ele. É claro que a nossa soberania foi sempre muito mais ficcional do que real. A cultura política dos nossos dirigentes sempre foi a da moda importada. A da subserviência. A do medo e da incapacidade de afirmar que temos interesses próprios. Mas dava para disfarçar. Só que, a partir de agora, as limitações à nossa soberania já não poderão ser disfarçadas. A festa acabou. Para sempre. Já ninguém duvida de que Sócrates fará tudo quanto os parceiros europeus lhe sugerirem para impedir que os Portugueses sejam ouvidos. Reduzindo-nos ao grau zero da cidadania. Ontem foi a festa. Preparemo-nos para o velório.

Artigo de João Marques dos Santos, Advogado,no Correio da Manhã de 14-12-07


Visualizar
No Planeta dos Macacos Políticos

No comments: